07 setembro 2010

ROGÉRIO CENI, 20 ANOS. O MITO INIMITÁVEL

Vinte anos de Rogério Ceni no Morumbi.
Treze anos batendo faltas e pênaltis para fazer 90 gols na carreira e na história.
Campeão do mundo, da América, do Brasil, de São Paulo e do Morumbi.
E isso irrita quem não é.
Dezessete anos de Rogério defendendo a meta tricolor.
“Meta” que é a palavra perfeita para definir o craque.
Ele é um profissional que parece bater um tiro de meta já com o objetivo definido. Determinado. Para isso se prepara. Treina. Estuda. Pensa. Faz.
E isso irrita quem não se compromete como ele.

Os 90 gols de falta e de pênalti não são acaso. São caso pensado. Treinado.
Ele é daqueles que treinam até faltar luz no CCT. E por isso acaba sendo tão iluminado quando é necessário. Quando é preciso como Rogério na meta são-paulina. Ainda mais tricolor quando defendida pelo maior craque-bandeira da história do clube.
E isso irrita quem não gosta dele e do São Paulo.
Rogério não dá bola. Porque ele não a larga. É daqueles goleiros que diminuem o tamanho do gol para os adversários. Com Rogério, no banco de 1993 a 1996, titular absoluto desde 1997, o São Paulo, se não ganhou tudo, foi quase tudo. E quase tudo parou nas mãos de Rogério, e passou pelos pés, pela cabeça, pelos dedos do líder incontestável. Para o bem e para o mal.
E isso irrita.
Rogério não é perfeito. Também por ser perfeccionista. Exige tanto que chega a irritar. E a se irritar. Cobra porque se cobra mais que tudo e que todos.
E isso irrita.
Como algumas saídas de meta em forma da cruz que aprendeu com o ídolo Navarro Montoya – que os não poucos críticos reclamam que ele se ajoelha demais; como as adiantadas nos pênaltis; como a fome de jogar de qualquer jeito; como algumas cobranças de falta desnecessárias no passado; como algumas cobranças no elenco exageradas; como algumas cobranças da (e na) direção mal contornadas no vai-não-sai para o Arsenal, em 2001, que quase acabou com parte dessa história impressionante; como algumas poucas falhas em momentos decisivos que acontecem com todos os mortais. Por mais imortal que ele seja no Morumbi.
E isso também irrita.
Ainda mais os adversários que querem ver os erros do mundo nas luvas de Rogério. Parte da empáfia assumida e juramentada e juvenalizada são-paulina passa pelo capitão, líder e exemplo. Mas repare em cada linha bem pensada, articulada e falada por Rogério. Na derrota (que não foi muita), na vitória (que foi tanta em 17 anos), Rogério está sempre lá para defender o São Paulo. Pode perder a linha, vez ou outra. Mas jamais a segurança que passa aos companheiros, aos rivais, e à instituição. À família são-paulina e à família Ceni que defende fora de campo tão bem como ele segura as pontas e os trancos na meta. Neste mundo midiático, escancarado e escandalizado, Rogério preserva e se preserva com categoria. Não se perde na noite e ganha o dia.
E isso irrita.
Porque ele é diferente. Não apenas por fazer defesas como poucos na história do clube, não apenas por fazer gols como ninguém na história do futebol.
Se Rogério pensa muito bem no que fala e no que faz, não pensa em ser lembrado e admirado como um ídolo de todas as torcidas.
Rogério é tão são-paulino que tem o compromisso com o São Paulo. Só.
De ser feliz e amado pelos tricolores. Só.
E não faz questão de ser o ídolo que merecia ser de todos os torcedores.
E isso irrita.
Como devem se irritar os não-são-paulinos que não puderam ver o Liverpool campeão do mundo porque Rogério Ceni segurou todas as bolas do massacre na final de 2005.
A falta na gaveta de Gerrard que Rogério defendeu como se fosse um Ceni.
O chute cruzado num bolo de gente que Rogério defendeu como se fosse um Ceni.
As defesas daquele que foi tudo no Japão como se fosse um Ceni.
E ainda foi o artilheiro do São Paulo na campeoníssima temporada de 2005 como se fosse um Ceni.
E isso irrita.
Um ano depois de Rogério chorar como criança quando eliminado pelo Once Caldas, na semifinal da Libertadores de 2004, em Manizales. Quando pensou que não conseguiria mais (re)conquistar o que já havia ganho como reserva do imenso Zetti. Digno sucessor da escola tricolor de Valdir Peres, Sérgio Valentim, Picasso, José Poy. Grandes, imensos goleiros debaixo das traves, em toda a grande área. Mas nenhum, no São Paulo e no mundo, senhor de todas as áreas como Rogério. E isso irrita.
Talvez Rogério não seja mais goleiro que outros poucos goleiros tricolores.
Talvez Rogério não seja o maior craque entre tantos craques e gênios são-paulinos.
Talvez outros raros tricolores tenham sido tão são-paulinos quanto ele.
Mas não há ídolo como Rogério Ceni.
Como diz com muita razão e enorme paixão o são-paulino, todos os times têm um goleiro. Só o São Paulo tem Rogério Ceni.

E isso não se imita.

Texto publicado originalmente por Mauro Beting
E está disponivel no seguinte endereço: http://blogs.lancenet.com.br/maurobeting/2010/09/07/rogerio-ceni-20-anos-mito-inimitavel