24 março 2018

O menino, o mendigo e o templo


Um menino ouviu uma vez que a igreja era a casa de Deus, no caminho de casa entrou no templo e gritou :

— Deus, cadê você? Aparece aí, precisamos conversar.

O menino esperou Deus responder, mas o silencio reinava. O menino pensou que Deus estava brincando de esconde-esconde, então procurou Deus em todos os lugares do templo. Procurou no altar e Deus não estava lá. Procurou atrás da cruz, e Deus não estava lá. Procurou até no púlpito, e Deus não estava lá, vasculhou todo o templo, e não encontrou Deus. No inicio a busca parecia divertida, o menino pensava:

— Deus deve ser brincalhão, deve estar se escondendo de mim pra me fazer uma surpresa.

Mas quando percebeu que estava brincando sozinho…ficou triste. Saiu do templo frustrado, queria perder o tempo não a crença. Um mendigo cego que estava lá fora chamou o menino e disse:

— Meu filho, venha cá - com um sotaque nordestino, bem carregado - Esse moço que você tá procurando nunca entrou nesse lugar aí não, todo dia vem alguém aqui procurando esse moço, eu tento falar pra eles, mas ninguém me vê, e olha que eu que sou cego.

Então o menino com uma cara de criança de castigo disse:

— Me falaram que aqui era a casa de Deus, fiquei esperando mas Ele não apareceu.

Então com um brilho no olhar de seus olhos branquinhos como cachorro de madame, o mendigo respondeu:

— Bom, esse moço nunca entrou aí, mas não quer dizer que eu não o conheça, se você quiser esperar eu te apresento Ele, daqui a pouco Ele deve tá chegando. Ele sempre passa aqui na hora do almoço. Eu sei que é hora do almoço porque Ele sempre passa aqui. Ele existe, só não mora aí.

O menino esperou desconfiado, mas esperou. Enquanto o menino esperava chegou um homem, pelo uniforme era o porteiro de algum prédio do bairro. Esse homem deixou uma marmita bem quentinha aos pés do mendigo, deu-lhe um abraço e partiu. Então com lágrimas nos olhos, o mendigo olhou pro menino e disse:

— Eu não te falei que Ele viria?!

O menino que há muito tempo crescera, ajeitou seu fino terno, deu um abraço no mendigo que comia sua marmita quente e partiu. Antes de ir, virou-se e disse bem baixinho:

— Até amanhã Deus.

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