21 outubro 2014

A falta de Rogério Ceni



Rogério Ceni mandou a bola no ângulo e fez um golaço contra o Bahia. Dos mais bonitos dos 123 gols que o camisa 01 marcou na carreira. Apenas cinco a menos que um dos maiores camisas 10 do São Paulo – Raí. Um daqueles gols que vale a pena rever e comentar. Para muitos jogadores seria dos mais bonitos da carreira.

Para Rogério foi mais um. Embora possa ser o último. E por isso também Ceni é o número um. Desde o primeiro gol, em Araras, em 1997, ele faz e celebra como se fosse nem o primeiro e nem o último. Mas o único. Por isso ele vai além. Rogério é único como deverá ser única a marca dele como artilheiro-goleiro. Como goleiro-goleiro, no clube de Poy, Sérgio, Valdir Peres e Zetti, Rogério está entre esses bambas todos. Mas, como artilheiro, como ídolo, como são-paulino, como mito, Rogério está em um nível em que um golaço nem mais é tão festejado como deveria. Ele banalizou o espetáculo. Na melhor acepção possível.

O problema, agora, será em algum tempo o tricolor olhar para a meta e não ver aquele magrelo de poucos cabelos fazendo das dele. O problema, em breve, será uma falta de qualquer lugar ser marcada a favor do São Paulo e não se ver mais os olhos de todos os estádios voltados para aquela tradicional abaixada de cabeça e trote em direção à meta rival. Quando o são-paulino berra e os adversários temem. Ou tremem. Ou ambos. Quando Rogério vem fazer o jogo de Ceni. E só dele. O São Paulo terá outros ótimos cobradores de faltas. Também de pênaltis. Claro que terá. Mas nunca mais uma falta próxima da área rival fará o torcedor tricolor olhar para a própria meta esperando a vinda do cobrador.

Outros clubes perderam seus ídolos. Craques. Mitos. Poucos com tanto tempo e tão corrida ficha prestada como a de Rogério. Mas só o São Paulo sofrerá a perda de um gesto inconsciente ainda que tão consciente. A olhadinha pro próprio gol na expectativa de mais um gol de falta. Nenhuma torcida na história do futebol teve tantas vezes essa sensação. Não será fácil se acostumar. Mas muito mais difícil foi criar esse sentimento. Quase uma certeza. Lá vem Rogério! Lá vai com ele uma história eterna.

Por Mauro Beting em 20.out.2014